ELIZANDRA SOUZA

terça-feira, 24 de abril de 2018

Futebol: da paixão ao fanatismo

Em época de Copa do Mundo, todos os olhares se voltam para o futebol e suas influências. Torcedores de todas as idades, classes e oriundos dos mais diferentes lugares se juntam com um único objetivo – assistir a seleção. O futebol é um esporte sem barreira social, e pelo contrário, tem o poder de unir pessoas dos mais diversos aspectos sócio-econômico-cultural, mas com um mesmo objeto de amor – seu time.

É, também, neste momento que surgem as mais diversas teorias que tentam dar conta deste fenômeno tão diferenciado que move milhões de pessoas em todo o mundo. Das teorias via biológico às teorias mais filosóficas, todas dão pelo menos uma explicação sobre o que acontece com o indivíduo que torce.

As vibrações e o nervosismo na hora dos jogos caracterizam-se como os principais componentes do torcedor, mas, por outro lado, podem revelar muito mais do que uma simples admiração. Inexplicavelmente, muitas formas de dedicação ao time ou ao jogo são condutas observadas em torcedores mais frequentemente que nos próprios jogadores do time.

O sujeito torcedor joga pelo outro (jogador) através do olhar e da emoção. Se em cada torcedor há um técnico, mais ainda, há um jogador, e mais, há um conhecedor. Todos, cada qual sob sua própria perspectiva vislumbra um jogo melhor, uma escolha técnica melhor, um posicionamento excelente de cada jogador. E sob seus próprios elementos já conhecidos e postos, constrói novas teorias, que em geral, divergem das utilizadas em campo, principalmente quando seu time perde.

Após cada jogo, são intermináveis os debates entre profissionais e leigos, sempre dando conta de um inexplicável, resolvendo o que não há solução, na tentativa de preencher o vazio deixado pelo jogo.

Apesar de toda esta disposição das pessoas que torcem, devemos pensar sobre o que representa o futebol, principalmente, no Brasil. Talvez o futebol brasileiro traga consigo a marca do reconhecimento, da existência, a marca da possibilidade de se representar ao resto do mundo, longe da figura selvagem que éramos submetidos.

O Brasil passa a ser reconhecido por seus títulos e seus jogadores. Há no mundo quem conheça Pelé, mas não saiba nada sobre o Brasil. Nossa vantagem em copas do mundo e outros títulos mundiais, nos fizeram reconhecidos como o pais do futebol e, se nisto contamos vitória, também pede uma reflexão sobre o que pensam os brasileiros em relação a forma como são vistos pelo resto do mundo.

Paramos cidades inteiras para assistir aos jogos da copa; a economia nas cidades mais importantes do pais parou: empresas privadas, bancos, serviços e até o trânsito fizeram silêncio para “sua majestade o futebol”. Mesmo carregados de controvérsias frente ao time ou as táticas, os brasileiros se submeteram ao futebol.

Seria então, o futebol a salvação da pátria? Deveríamos então, utilizar o futebol como característica política para desenvolver na população o tão desejado sentimento de patriotismo? Qual será o real interesse dos brasileiros frente as suas questões sociais, econômicas e culturais se somente o futebol demonstra força de mobilização?

Dentre os questionamentos dessa fragilidade emocional do brasileiro perante o futebol, trago à tona as relações de fanatismo e agressividade tão presentes nas partidas e depois das partidas.

Ao mesmo tempo, que mobiliza a população a um pseudo-patriotismo, o futebol, nos terrenos particulares de seus clubes, faz emergir entre muitos torcedores sentimentos de posse, egoísmo e intolerância, e caminham para uma forma de fascismo recheado de sofrimento, violência, totalitarismo, induzindo a destruição da comunidade social e do direito de escolha.

Este mecanismo que vigora pelo fanatismo já é considerado problema social, cultural, psíquico e, muitas vezes, até fisiológico. O fanatismo é degradante em qualquer aspecto que toma forma, pois ele por si só destrói, se não os outros, o próprio sujeito, que deixa de se relacionar com outros objetos do mundo para contemplar um único objeto.

O fanático é aquele que acredita que a única forma de ser feliz ou de viver é através de um símbolo idealizado, por exemplo, um time (ou mesmo a seleção campeã). Esta fixação idealizada pode surgir na infância com os exemplos e ensinamentos oferecidos pelos pais, familiares e a sociedade. Algumas formas de fanatismo podem dizer algo relacionado à fuga de realidade, visto que está ligado a um prazer muito particular. Portanto, ao fixar um símbolo ideal, ameniza-se os sofrimentos que a vida podem suscitar.

O fanático é impossibilitado de perceber as escolhas alheias, os gostos, o comportamento e os pensamentos das outras pessoas que são contrários aos seus e age com agressividade quando o que vem do outro agride ou ofende sua idealização.

Acredito que ao fazer uma reflexão sobre o futebol e suas particularidades, devemos voltar os olhares para todas as formas de manifestação atribuídas como consequência deste esporte, que tem sua atuação cada vez mais presente, justamente pela variedade e contradição de suas representações e manifestações.

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