É muito claro, atualmente, a
dificuldade enfrentada pelas empresas para encontrar profissionais
comprometidos com seu emprego. Ao mesmo tempo, que a demanda por trabalho é
grande, a demanda por bons profissionais também cresce. E bons profissionais
não são, necessariamente ou somente, os altamente qualificados, mas,
principalmente, se buscam profissionais que queiram aprender, que queiram se
comprometer, que queiram realmente ser profissionais.
Obviamente, este não é um
problema pontual, que está depositado nas empresas. Este problema é
consequência de uma construção social e discursiva que se segue desde anos
atrás com a tentativa incisiva de flexibilidade profissional. Se há 40 anos o
ideal e admirável era o profissional que se estabelecia num mesmo emprego por
mais de 20/ 30 anos, a partir dos anos 80/ 90, o ideal profissional foi sendo
transformado pelo discurso de não acomodação, ou seja, o profissional que se
“prendia” a uma única empresa ou emprego por mais 6/7 anos passou a ser
encarado como um sujeito acomodado, inflexível e sem perspectiva.
Outro ponto importante desta
mudança conceitual sobre o profissional ideal está no aporte tecnológico que
temos hoje. As denominadas “novas tecnologias”, que estão em estado constante
de transformação, por isso são sempre novas, exige grande flexibilidade prática
do profissional, assim como, este deve ter possibilidade de adaptação aos novos
processos de trabalho.
Hoje, temos uma geração que
nasceu ou se formou em meio a estes discursos e esta forma “camaleão” de ser,
resultando em questões altamente positivas, como em problemas que crescem a
cada momento.
Além do comportamento
descompromissado, os jovens contemporâneos não possuem referenciais de
comportamentos adequados nas empresas. Ainda sob o discurso da não limitação,
da liberdade a qualquer preço, os jovens profissionais rejeitam padrões de
comportamento que seja considerado apropriado.
Desde o término da ditadura no
Brasil, palavras como limite, restrição, censura são consideradas negativas e
contrárias ao desenvolvimento e ao progresso. Qualquer forma de determinação de
regras de comportamento foi considerada um obstáculo à formação do sujeito. Bandeira
levantada pela administração, pela pedagogia, pela psicologia, pela economia,
pelas ciências humanas de forma geral, o vislumbre pelo sujeito ideal, enquanto
livre e autônomo, foi considerado somente possível se não houvesse modelação de
comportamento ou de pensamento. Se o sujeito pudesse escolher por si só seu
caminho, se pudesse experimentar todas as coisas do mundo, se não lhe fosse
imposto limites ou nenhuma regra limitante, se o sujeito pudesse se movimentar
de todas as formas, sem a necessidade de definição, não sendo considerado
somente por sua quantidade de produção e trabalho.
Em entrevistas, seleções e
treinamentos os jovens profissionais demostram sua variável fascinação pelo
trabalho, que num momento se coloca entusiasmado e logo em seguida se
desmotiva. O que será que querem? Quais são seus reais objetivos na vida? Estas questões são feitas diariamente por
empregadores. A geração da informação se transforma na geração do
descompromisso, daqueles que não instituem um foco e daqueles que parecem não
vislumbrarem um futuro.
A rapidez da informação e das
mudanças, frutos do avanço tecnológico, parece atrapalhar a constituição de um
desejo futuro. É como se o futuro nunca fosse chegar, pois o presente já é por
si só instável.
As empresas sofrem com esta
dispersão de objetivos que resulta na alta rotatividade de funcionários. Apesar
de pesquisarem e buscarem benefícios para seus colaboradores, acreditando que
quanto mais puderem oferecer, mais próximos estarão da estabilidade, percebem
que isto não acontece.
Nada satisfaz àquele que nada
deseja. O que falta a estes jovens que estão agora no mercado de trabalho é a
própria falta, que gera o desejo. Falta a falta. Quando se tem tudo ou se
acredita ter tudo, não há o que desejar, portanto não há o que construir, não
há o que buscar, não há por que lutar.
Por isso, por mais que as
empresas e os empregadores instalem benefícios, não há garantia nenhuma de
consolidação profissional destes jovens inseridos no discurso atual. O trabalho
com estes profissionais não se institui com treinamentos comumente conjugados,
é mais profundo, mais específico e bem mais elaborado.
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