Nosso corpo, nossa morada. Desde as
questões de saúde e beleza até as patologias, usamos nosso corpo para expressar
nossos sentimentos e marcar nossa presença no mundo. Através dele mostramos
quem somos e representamos papéis diversos.
Nem sempre essa relação entre nosso
mundo interno e nosso corpo, é consciente e controlável. E, por isso, podemos
nos perder na relação com o corpo, principalmente porque hoje vivenciamos de
forma mais intensa essa relação.
O corpo é aquilo que se coloca
inicialmente, que chega primeiro. Antes mesmo das pessoas poderem nos conhecer,
elas interagem com nossa presença física, com nosso corpo. Obviamente, essa
interação não se trata de toque, mas de olhar. O corpo é usado para servir de
máscara, velando ou revelando nossas faltas.
Hoje, o corpo é um objeto a serviço
dos anseios sociais e virtuais pautados numa ideologia narcísica que visa
apresentar o sucesso, o bem-estar, a satisfação plena do sujeito. Lugar que não
se admite a expressão do fracasso ou da tristeza.
Diariamente, nos revelamos através de
nossos corpos e temos a oportunidade de desvelar outros sujeitos. Nossos
movimentos, nossas roupas, acessórios, nossa fala, sorriso, tudo diz algo sobre
nós, pode ser lido, revelado ou mesmo falseado. Conhecemos, reconhecemos e
interpretamos as pessoas através daquilo que, primeiramente, o corpo mostra.
O tempo todo nos apresentamos e
representamos, às vezes expressando nossas verdades, às vezes tentando mostrar
verdades que não existem, ou mesmo sendo contraditórios em nossas expressões.
De certo, o que se manifesta, através de nosso corpo, diz muito mais sobre nós
do que aquilo que podemos dizer em palavras. Algumas de nossas representações
são espontâneas e conscientes. Outras tantas são expressões daquilo que não
sabemos dizer, nem sabemos por quê.
Usamos o corpo com cuidados em função
da saúde quando procuramos alimentos saudáveis, quando usamos cosméticos que
tratam ou medicações que curam e aliviam as dores. Usamos o corpo por causa da
beleza quando fazemos exercícios físicos, quando utilizamos cremes e
maquiagens, quando infligimos dores ao corpo para se adequar ao constructo
social da valorização da imagem.
A mulher se angustia com a questão da
beleza e se vê reduzida ao próprio corpo. Ainda que acredite conhecer seus
limites, se escraviza, sem perceber, de um ideal muitas vezes inalcançável.
Isso não significa que não possa existir prazer no trabalho corporal, onde o
sofrimento é consequência satisfatória do movimento corporal, como nas
bailarinas.
Mas usamos também nosso corpo para
expressar aquilo que não tem palavra ou que não encontra formas melhores de se
representar através de patologias. É claro que não se pode interpretar toda
patologia como pura expressão de um sentido de ser, mas também não podemos
negar que nossos sentimentos, nossas dúvidas e nossos conflitos influencie as
questões estão atreladas ao corpo.
Não há uma ligação direta entre um
estado de ser e uma impressão corporal. Não é possível afirmar que uma tristeza,
uma decepção, uma frustração ou a raiva de alguém cause diretamente uma dor
física ou o funcionamento errado de algum órgão ou mesmo que construa outros
sentidos negativados ou destrutivos.
As mulheres têm seus corpos
fragmentados pela mídia, que divide em tantos pedaços quanto forem necessários
para fazer do consumo um objetivo. A partir do discurso capitalista,
ficam assujeitadas ao consumo de objetos que correspondem ao ideal de beleza e
juventude ainda que em detrimento da saúde. O discurso consumistatransforma o
sentido de ser das pessoas, ao mesmo tempo, que promoveo imperialismo do objeto
sobre o sujeito no mundo globalizado.
Além disse, a mulher se vê diante de
uma competição acirrada com os homens, na construção de sua identidade, pois
precisam ser fortes, racionais, conquistadoras. Precisam assumir atitudes,
antes somente referidas aos homens, para se sentirem pertencentes à sociedade
contemporânea.
Porém, buscar conhecer um pouco mais
nossas dores, nossos desafetos, nossos conflitos, nos permite reconhecer nosso
sentido de vida e daí transformar. O corpo faz relação com o mundo. O corpo
estáno espaço e no tempo e, é a própria expressão do ser-no-mundo. É na forma
de ser-no-mundo através do corpo, que homens e mulheres participam da sociedade
e se comunicam. O fato de pessoas terem corpos ou serem corporais permite que o
mundo em que vivem seja comum a todos e também que uma pessoa tenha acesso a
outra, através de suas expressões corporais.
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