ELIZANDRA SOUZA

terça-feira, 24 de abril de 2018

Nosso corpo, nossa morada

Nosso corpo, nossa morada. Desde as questões de saúde e beleza até as patologias, usamos nosso corpo para expressar nossos sentimentos e marcar nossa presença no mundo. Através dele mostramos quem somos e representamos papéis diversos.

Nem sempre essa relação entre nosso mundo interno e nosso corpo, é consciente e controlável. E, por isso, podemos nos perder na relação com o corpo, principalmente porque hoje vivenciamos de forma mais intensa essa relação.

O corpo é aquilo que se coloca inicialmente, que chega primeiro. Antes mesmo das pessoas poderem nos conhecer, elas interagem com nossa presença física, com nosso corpo. Obviamente, essa interação não se trata de toque, mas de olhar. O corpo é usado para servir de máscara, velando ou revelando nossas faltas.

Hoje, o corpo é um objeto a serviço dos anseios sociais e virtuais pautados numa ideologia narcísica que visa apresentar o sucesso, o bem-estar, a satisfação plena do sujeito. Lugar que não se admite a expressão do fracasso ou da tristeza.

Diariamente, nos revelamos através de nossos corpos e temos a oportunidade de desvelar outros sujeitos. Nossos movimentos, nossas roupas, acessórios, nossa fala, sorriso, tudo diz algo sobre nós, pode ser lido, revelado ou mesmo falseado. Conhecemos, reconhecemos e interpretamos as pessoas através daquilo que, primeiramente, o corpo mostra.

O tempo todo nos apresentamos e representamos, às vezes expressando nossas verdades, às vezes tentando mostrar verdades que não existem, ou mesmo sendo contraditórios em nossas expressões. De certo, o que se manifesta, através de nosso corpo, diz muito mais sobre nós do que aquilo que podemos dizer em palavras. Algumas de nossas representações são espontâneas e conscientes. Outras tantas são expressões daquilo que não sabemos dizer, nem sabemos por quê.

Usamos o corpo com cuidados em função da saúde quando procuramos alimentos saudáveis, quando usamos cosméticos que tratam ou medicações que curam e aliviam as dores. Usamos o corpo por causa da beleza quando fazemos exercícios físicos, quando utilizamos cremes e maquiagens, quando infligimos dores ao corpo para se adequar ao constructo social da valorização da imagem.

A mulher se angustia com a questão da beleza e se vê reduzida ao próprio corpo. Ainda que acredite conhecer seus limites, se escraviza, sem perceber, de um ideal muitas vezes inalcançável. Isso não significa que não possa existir prazer no trabalho corporal, onde o sofrimento é consequência satisfatória do movimento corporal, como nas bailarinas.

Mas usamos também nosso corpo para expressar aquilo que não tem palavra ou que não encontra formas melhores de se representar através de patologias. É claro que não se pode interpretar toda patologia como pura expressão de um sentido de ser, mas também não podemos negar que nossos sentimentos, nossas dúvidas e nossos conflitos influencie as questões estão atreladas ao corpo.

Não há uma ligação direta entre um estado de ser e uma impressão corporal. Não é possível afirmar que uma tristeza, uma decepção, uma frustração ou a raiva de alguém cause diretamente uma dor física ou o funcionamento errado de algum órgão ou mesmo que construa outros sentidos negativados ou destrutivos.


As mulheres têm seus corpos fragmentados pela mídia, que divide em tantos pedaços quanto forem necessários para fazer do consumo um objetivo.  A partir do discurso capitalista, ficam assujeitadas ao consumo de objetos que correspondem ao ideal de beleza e juventude ainda que em detrimento da saúde. O discurso consumistatransforma o sentido de ser das pessoas, ao mesmo tempo, que promoveo imperialismo do objeto sobre o sujeito no mundo globalizado.

Além disse, a mulher se vê diante de uma competição acirrada com os homens, na construção de sua identidade, pois precisam ser fortes, racionais, conquistadoras. Precisam assumir atitudes, antes somente referidas aos homens, para se sentirem pertencentes à sociedade contemporânea.

Porém, buscar conhecer um pouco mais nossas dores, nossos desafetos, nossos conflitos, nos permite reconhecer nosso sentido de vida e daí transformar. O corpo faz relação com o mundo. O corpo estáno espaço e no tempo e, é a própria expressão do ser-no-mundo. É na forma de ser-no-mundo através do corpo, que homens e mulheres participam da sociedade e se comunicam. O fato de pessoas terem corpos ou serem corporais permite que o mundo em que vivem seja comum a todos e também que uma pessoa tenha acesso a outra, através de suas expressões corporais.


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